Meu grande problema
Meu terrível e assustador problema
Sem solução
Que me fez perder o sono
Noite passada
Pois então!
Descobri que ele é tão menor
Que a flor
Que acabou de desabrochar
No meu jardim
sábado, 22 de dezembro de 2007
quinta-feira, 6 de dezembro de 2007
sábado, 24 de novembro de 2007
quarta-feira, 14 de novembro de 2007
A Cidade e o Neon
É noite
A cidade acorda.
Luzes acesas
Avenidas, galerias,
Saídas do metrô,
Carros, faróis e semáforos
Refletindo no chão
Concreta inspiração
Pode-se ouvir um jazz,
Trompete libertário,
Fundindo-se ao neon
Das boates e dos hotéis baratos
Sorrisos na madrugada
Amantes solitários
São mais de três da manhã
Luzes invadindo a noite
Noite brindando a vida
Luz, paz
São Paulo
Minha eterna amada
São Paulo.
domingo, 11 de novembro de 2007
Novo tratamento anti-rugas.
Cansada dos tratamentos de beleza que só prometem o fim das rugas e das linhas de expressão? Cansada de gastar fortunas em cremes e máscaras revigorantes que não melhoram em nada sua aparência?
Não perca a calma, nós temos a solução definitiva.
Apresentamos a mais nova técnica anti-rugas e anti-envelhecimento: o Suicídio - Seu rosto firme e jovem para sempre... Experimente desafiar a Lei da Gravidade!
O Suicídio é um tratamento rápido e indolor, que age na superfície da pele, mantendo os contornos naturais do rosto. A pele fica visivelmente relaxada e com uma sensação de maciez e suavidade pela manhã, tarde e noite.
Basta alguns comprimidos e pronto: Tenha um rosto firme e jovem para sempre! Mate de inveja suas amigas e seja sempre lembrada por sua pele macia e jovial.
O resultado é imediato, garantindo uma aparência jovem e natural.
Quanto antes começar o tratamento, melhor será o resultado. Uso recomendado para todos os tipos de pele.
Dica da semana: Antes de adquirir o produto, faça uma limpeza facial com a máscara revitalizante Anti-Aging Performance. Afinal, você não vai querer aparecer com manchas na pele no seu próprio velório, vai?
quarta-feira, 7 de novembro de 2007
O Natal de Arlindo
Arlindo estava exausto. Suas pernas não agüentavam mais o peso do próprio corpo, e as sacolas que carregava ficavam mais pesadas a cada minuto que se passava.
Era véspera de natal, e Arlindo estava atrasado com as compras. Já não bastava a pressão de ter de comprar presente para todos da família, incluindo o cunhado puxa-saco, Arlindo era péssimo para escolher presentes. Por ele, cada um da lista ganharia uma nota de vinte e faria o que bem entender com o dinheiro. Mas todos estavam ansiosos - o cunhado principalmente - aguardando os embrulhos de natal de Arlindo. E ai se ele aparecesse em casa com algum cd.
Apesar da corrida contra o tempo, não tinha tido grande progresso com as compras. Havia começado cedo a procura, mas, até aquele momento, levava consigo apenas três míseros pacotes. A única coisa que progredia bem, àquela altura, era o número de pessoas que chegavam ao shopping em busca de presentes.
Loja de sapatos, loja de brinquedos, loja de roupas, loja de perfumes. Arlindo havia entrado em todas as lojas, e já nem lembrava mais em qual loja tinha passado. Só sabia que estava exausto. E que precisava de água. Procurou algum bebedor, mas só conseguiu ver gente, gente e mais gente Olhou em volta, procurando algum lugar para descansar. Nada. Por onde olhava, só via lojas entupidas de vendedores e pessoas comprando e indo e voltando pelos corredores e Mamães Noel suadas. O ar condicionado estava quebrado. Sentiu um calafrio. Tudo começou a rodar em sua volta, sua visão ficou embaçada, seu coração acelerou. Uma sensação de desespero, não sabia se gritava ou se chorava, só sabia que precisava sair daquele lugar, ou talvez não voltaria vivo para casa. Parou no meio do corredor principal, um olhar vago. Pessoas passavam e esbarravam nos pacotes de Arlindo. Um menino pisou em seu pé e correu, rindo. Um bebê chorava ao seu lado. Ele baixou a cabeça, seus ombros arquearam. Talvez fosse mesmo o seu fim...
Foi então que viu, no meio daquele caos natalino, sua salvação. Esfregou os olhos, podia ser uma miragem. Não, era mesmo verdade. Havia um lugar seguro e tranqüilo no meio daquele inferno de guirlandas e barbas postiças. Respirou fundo, criou coragem e começou a caminhar, passos lentos porém firmes, sem olhar para os lados - um olhar fixo. Arlindo esbarrava nas pessoas e as pessoas esbarravam em Arlindo, mas isso não mais importava, ele estava a salvo. Após muitos esbarrões e tropeções, finalmente chegou. Era uma livraria. Uma livraria, pensou Arlindo. Claro, por que não havia pensado em uma livraria antes. Estava quase vazia. Tinham dois ou três vendedores encostados no balcão, conversando tranqüilamente, e uma senhora gorda nos fundos da loja, apenas olhando os livros das prateleiras.
Pegou a primeira revista que viu pela frente, para disfarçar, e se sentou em uma das poltronas da loja. Era uma revista de viagens, uma edição especial dos lugares mais inóspitos do planeta. - Lugares inóspitos! Arlindo riu sozinho. Cruzou as pernas e começou a folhear a revista, bem acomodado na confortável poltrona de leitura, a brisa fresca do ar condicionado da loja refrescava seu corpo, enquanto se maravilhava com o deserto do Atacama. Ficou ali, vendo as fotos da revista e relaxando o corpo, aproveitando aquela paz inacreditavelmente alcançada. Quando terminou, fechou a revista, respirou fundo, estava pronto para ir embora. Confiante, se levantou e olhou para fora da loja. Viu o corredor. E viu gente. O corredor estava empilhado de gente, mais gente ainda que quando entrara na livraria. Viu pacotes esbarrando em pessoas, pessoas esbarrando em outras pessoas, viu os vendedores sorridentes, viu crianças correndo, mães sorrindo e bebês chorando. Estava tudo lá, além das vidraças da livraria.
Arlindo fechou os olhos e se afundou na poltrona novamente, febril. Sua mente foi tomada por delírios natalinos - presentes voando, uma lista de natal interminável, a família reunida, o cunhado dando risada, enquanto abocanhava uma enorme coxa de peru. Foi então que uma imagem começou a se formar em sua cabeça. Nada de presentes, nada de embrulhos. O silêncio apenas. Era o deserto do Atacama. Abriu subitamente os olhos, paralisado por um instante. Deserto do Atacama. Puxou a revista para seu colo e começou a folhear lentamente as páginas. Já tinha decidido, e não havia presente ou cunhado ou peru com farofa que o faria mudar de idéia. Arlindo ficaria ali, só ele, a poltrona e o deserto do Atacama, para sempre. Pare sempre!
Era véspera de natal, e Arlindo estava atrasado com as compras. Já não bastava a pressão de ter de comprar presente para todos da família, incluindo o cunhado puxa-saco, Arlindo era péssimo para escolher presentes. Por ele, cada um da lista ganharia uma nota de vinte e faria o que bem entender com o dinheiro. Mas todos estavam ansiosos - o cunhado principalmente - aguardando os embrulhos de natal de Arlindo. E ai se ele aparecesse em casa com algum cd.
Apesar da corrida contra o tempo, não tinha tido grande progresso com as compras. Havia começado cedo a procura, mas, até aquele momento, levava consigo apenas três míseros pacotes. A única coisa que progredia bem, àquela altura, era o número de pessoas que chegavam ao shopping em busca de presentes.
Loja de sapatos, loja de brinquedos, loja de roupas, loja de perfumes. Arlindo havia entrado em todas as lojas, e já nem lembrava mais em qual loja tinha passado. Só sabia que estava exausto. E que precisava de água. Procurou algum bebedor, mas só conseguiu ver gente, gente e mais gente Olhou em volta, procurando algum lugar para descansar. Nada. Por onde olhava, só via lojas entupidas de vendedores e pessoas comprando e indo e voltando pelos corredores e Mamães Noel suadas. O ar condicionado estava quebrado. Sentiu um calafrio. Tudo começou a rodar em sua volta, sua visão ficou embaçada, seu coração acelerou. Uma sensação de desespero, não sabia se gritava ou se chorava, só sabia que precisava sair daquele lugar, ou talvez não voltaria vivo para casa. Parou no meio do corredor principal, um olhar vago. Pessoas passavam e esbarravam nos pacotes de Arlindo. Um menino pisou em seu pé e correu, rindo. Um bebê chorava ao seu lado. Ele baixou a cabeça, seus ombros arquearam. Talvez fosse mesmo o seu fim...
Foi então que viu, no meio daquele caos natalino, sua salvação. Esfregou os olhos, podia ser uma miragem. Não, era mesmo verdade. Havia um lugar seguro e tranqüilo no meio daquele inferno de guirlandas e barbas postiças. Respirou fundo, criou coragem e começou a caminhar, passos lentos porém firmes, sem olhar para os lados - um olhar fixo. Arlindo esbarrava nas pessoas e as pessoas esbarravam em Arlindo, mas isso não mais importava, ele estava a salvo. Após muitos esbarrões e tropeções, finalmente chegou. Era uma livraria. Uma livraria, pensou Arlindo. Claro, por que não havia pensado em uma livraria antes. Estava quase vazia. Tinham dois ou três vendedores encostados no balcão, conversando tranqüilamente, e uma senhora gorda nos fundos da loja, apenas olhando os livros das prateleiras.
Pegou a primeira revista que viu pela frente, para disfarçar, e se sentou em uma das poltronas da loja. Era uma revista de viagens, uma edição especial dos lugares mais inóspitos do planeta. - Lugares inóspitos! Arlindo riu sozinho. Cruzou as pernas e começou a folhear a revista, bem acomodado na confortável poltrona de leitura, a brisa fresca do ar condicionado da loja refrescava seu corpo, enquanto se maravilhava com o deserto do Atacama. Ficou ali, vendo as fotos da revista e relaxando o corpo, aproveitando aquela paz inacreditavelmente alcançada. Quando terminou, fechou a revista, respirou fundo, estava pronto para ir embora. Confiante, se levantou e olhou para fora da loja. Viu o corredor. E viu gente. O corredor estava empilhado de gente, mais gente ainda que quando entrara na livraria. Viu pacotes esbarrando em pessoas, pessoas esbarrando em outras pessoas, viu os vendedores sorridentes, viu crianças correndo, mães sorrindo e bebês chorando. Estava tudo lá, além das vidraças da livraria.
Arlindo fechou os olhos e se afundou na poltrona novamente, febril. Sua mente foi tomada por delírios natalinos - presentes voando, uma lista de natal interminável, a família reunida, o cunhado dando risada, enquanto abocanhava uma enorme coxa de peru. Foi então que uma imagem começou a se formar em sua cabeça. Nada de presentes, nada de embrulhos. O silêncio apenas. Era o deserto do Atacama. Abriu subitamente os olhos, paralisado por um instante. Deserto do Atacama. Puxou a revista para seu colo e começou a folhear lentamente as páginas. Já tinha decidido, e não havia presente ou cunhado ou peru com farofa que o faria mudar de idéia. Arlindo ficaria ali, só ele, a poltrona e o deserto do Atacama, para sempre. Pare sempre!
sábado, 3 de novembro de 2007
Centrão
Duas lésbias de mãos dadas
Passam felizes em trajes formais
Enquanto, do outro lado,
Três putas perfumadas
Confidenciam
Seus problemas conjugais
Um cãozinho bem tosado,
Do mais alto pedigree
Abana o rabo para o moleque
Que, na calçada, larga a cola
E sorri
Lá na frente, os gringos observam
Os versos rápidos do repentista
Na mesma hora em que, no bar,
O garçom serve mais uma coca
Para o velho comunista
Passam felizes em trajes formais
Enquanto, do outro lado,
Três putas perfumadas
Confidenciam
Seus problemas conjugais
Um cãozinho bem tosado,
Do mais alto pedigree
Abana o rabo para o moleque
Que, na calçada, larga a cola
E sorri
Lá na frente, os gringos observam
Os versos rápidos do repentista
Na mesma hora em que, no bar,
O garçom serve mais uma coca
Para o velho comunista
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