segunda-feira, 31 de março de 2008

Madame Bagaceira

Madame Bagaceira
Eram mais de três da manhã
Quando a vi encostada
Na área de fumantes de um bistrô francês
Na madrugada, a hora dos amantes
Para você é só um tempo a mais
Para brincar com a lucidez

Tua magreza exposta já revela
Uma vida de excessos sem regras
Teus ossos pontudos
Teus olhos, tua alma
Tuas pernas

Quantos sonhos encharcados na bebida
Quantos planos aspirados na carreira
Para onde carregar uma vida
Quando passos trêmulos
Se apóiam na cegueira

Quantos corações você partiu?
Em quantas partes o teu já foi partido?
Em quantas camas você dormiu
Fazendo de corpos estranhos
Um abrigo?

quarta-feira, 19 de março de 2008

O homem de velhos sapatos

A noite vem à tona
E o homem olha para os lados
Vê as coisas de passagem
Nada de certezas
Apenas seus pés sujos em seus velhos sapatos
Para onde irei, pergunta o homem
Ele caminha sem rumo
Busca um canto para pousar
Um homem sem rumo é um homem morto, pensa
Mas para onde caminhar se o caminho é o seu lugar?
Para onde olhar se para onde olha
Vê a beleza da vida
O que buscar
Se o que ele tem já basta para seu simples paladar?
Vá para algum lugar!
O estranho diz
Vá à luta, vá buscar!
Diz o velho homem na calçada
Mas este é o meu lugar
Responde o homem com os velhos sapatos
Estes são os meus sapatos
E estão são meus pés calejados
Isto nada irá mudar
Se sapatos novos eu passar a usar
Nada irá mudar?
Diz a velha senhora
Não
Nada irá mudar
Pois o mundo e estes velhos sapatos
E o vento e a chuva
E a noite
Também pertencem ao meu lar!
E assim
O homem vai embora
Deixando o estranho, o velho
A senhora
Deixando tudo e continuando estar
Porque para trás
O homem de pés sujos e sapatos velhos
Não deixou nem um único olhar

segunda-feira, 10 de março de 2008

Para que servem os poetas hoje em dia?

Para que servem os poetas
Hoje em dia?
Se o metal
Já se encarregou de enterrar
A poesia
Se a doce experiência humana
Foi tomada por uma eficiência
Cinza fria
Para que servem os poetas
Hoje em dia?
Se os lucros aumentam
E a liberdade repousa
Em paralisia
Se as contas e os títulos
Fazem mais sentido
Que os desejos rascunhados
Pela boemia
Para que servem os poetas
Hoje em dia?
Se as portas foram fechadas
Para os que têm a estrada
Como moradia
Para que servem os poetas
Hoje em dia?

quinta-feira, 6 de março de 2008

Sua boca

Sua boca quente
Não é apenas sua boca quente
É também minha inspiração
Minha alegria, meu suspiro
E quem sabe
Minha perdição
Mas se me vale sua boca
Um suspiro
Pois que ela seja então!