quarta-feira, 29 de julho de 2009

O vazio. É isso. O vazio da alma, em frente ao computador, sob a luz branca do escritório. Ouço um pássaro cantar, ao longe, sua alegria frágil e provocativa. É ele lá fora, ou sou eu, buscando algo vivo, orgânico no período entre oito e seis horas da tarde? Ele canta para o céu e para o sol, ele sabe que possui o sol e o céu, e o sol e o céu o possuem também, mas eu tenho apenas minha poltrona reclinável. Sei que o sol está lá, imperativo, mas não posso senti-lo. Sou impedido de senti-lo, de sentir meu suor escorrendo pela testa e sentir o torpor quase lisérgico do calor do meio-dia porque o ar-condicionado funciona perfeitamente. Sobre minha mesa, pastas e planilhas e um buquê medíocre de flores artificiais. Elas rejeitam a água, a terra e a vida. Florescem mediocridade. Estas flores me impedem de chorar. Sim, já chorei pela beleza de uma única flor, altiva e viva no jardim, a prova divina que deus não precisa de altar para existir, basta um pouco de terra úmida. Mas daqui só vejo a maldita flor artificial na minha frente.

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